Segredos das Prisões
Segredos das Prisões é um livro
sobre as razões da existência das prisões, levando a sério a conclusão que
se pode tirar do facto de jamais alguém ter encontrado alguma relação entre
o crime e o encarceramento, no sentido de estabelecer este último como uma
reacção proporcional das sociedades ou dos Estados às ameaças que
constituiriam os avanços do mundo do crime.
Como é reconhecido, as prisões são um
dos polos dos mundos criminosos, onde Estado e privados, grandes e pequenos
interesses, se reconhecem e religam sob a forma de segredos – de justiça, de
Estado, comerciais, industriais, financeiros, de carácter, etc. Tudo quanto
seja dito sob prisão – que se está inocente, que se sabe quem sejam os
culpados, que se está a ser vítima de perseguição, que um dia outros hão-de
mandar no mundo – seja ou não verdade, venha ou não a ser verdade, tudo é
reduzido à mentira ancestral da irrelevância ritual do grunhido infame do
bode expiatório enfrentando o respectivo e transcendente destino: cumprir no
sacrifício ritual o papel de oferenda ao desconhecido, aos valores e poderes
dominantes em devir. Qual “rei morto, rei posto”, ambos impostos às
sociedades humanas por quem manda. Por quem possa mandar sem incorrer nos
incómodos de ser tratado como são os que mandam: de bestiais a bestas, como
símbolos virtuais, mágicos, religiosos, irracionais, emocionais, conforme a
vida corra melhor ou pior do que as espectativas.
As prisões servem para substituir de
forma institucional os sacrifícios das bestas que mandam em nós pelos
sacrifícios das bestas recrutadas entre os mais isolados e impotentes dos
seres humanos. E têm como efeito ainda mais perverso evitar a discussão dos
problemas sociais que causam as exclusões sociais e os obstáculos ao
desenvolvimento.
Autor:
António Pedro Dores e José Preto
Título:
"Os Segredos das Prisões"
Data:
2013
Editora:
Rui Costa Pinto
As prisões portuguesas continuam a viver sob a lei do silêncio. Só assim
é possível explicar o universo prisional caracterizado por sobrelotação,
falta de condições sanitárias, suicídios, torturas, espancamentos,
perseguições, maus-tratos e tráfico de droga.
Os casos brutais, que têm chegado ao conhecimento público, não têm sido
suficientes para alertar as autoridades e despertar as consciências, nem
mesmo quando o país assistiu ao uso de uma arma
taser
contra um preso isolado, indefeso, sem opor nenhum tipo de resistência.
Com recurso a testemunhos documentados de presos, António Pedro Dores e
José Preto revelam uma realidade violenta e incompatível com o Estado de
Direito e com o primado do Direito Internacional.
"Segredos das Prisões" é muito mais que uma descrição do que se passa
entre os muros dos Estabelecimentos Prisionais. É um contributo para quebrar
o silêncio que está por detrás destes episódios, em nome do direito à
indignação que não troca a liberdade real pela segurança fictícia.
Comentário de Francisco Teixeira
da Mota em Público
Comentário
Filipe Nunes em Diário do Alentejo
A Ponte Sobre o Abismo,
por José Henrique Duarte, 2012
Disponível em
versão integral
José Preto (2010) Estado
Contra Direito - flagrantes do assédio à Liberdade de Expressão,
Lisboa, Argusnauta.
A ”(…)
tarefa da agente era simplesmente permanecer (…) impávida [a passar] uma
multa ao infractor, por mais que ele a insulte”, escreve Goleman no seu
livro sobre inteligência social, referindo-se a outro qualquer país,
ignorando que em Portugal qualquer impropério é tratado pelas instituições
como dolo. Quando entendem, as “autoridades” mobilizam essa especificidade
nacional para evitar a realidade à custa da eliminação dos queixosos e da
vida cívica – que de facto é manifestamente escassa, em termos europeus.
Disso se queixou Carlos Queiroz, quando foi corrido da selecção, Ricardo Sá
Fernandes quando foi condenado por denunciar gente corrupta, é um problema
quotidiano dos jornalistas e dos meios de comunicação social e é prática
comum nos tribunais contra o vulgo (que nem percebe o que lhe está a
acontecer). É uma das características da jurisprudência local, resistindo às
condenações dos tribunais internacionais, orgulhosamente sós, cujo
diagnóstico e prognóstico de intervenção são feitos neste livro. De leitura
obrigatória, portanto.
António Pedro Dores (2009)
Espírito de Submissão,
Coimbra, FCT/FCG Coimbra editores.
António Pedro Dores (2010)
Espírito de Proibir,
Lisboa, Argusnauta.
António Pedro Dores (2010)
Espírito Marginal,
Lisboa, Argusnauta.
António Pedro Dores e António Alte Pinho (2004)
Vozes Contra
o Silêncio, Lisboa, Edições Margem.
Philip Zimbardo
(2007)
Lucifer Effect: understanding how good people turn evil,
Random House
Recomeço Jornal feito por presos (Brasil)
Claris
em francês
Quinze
Recomendações Chave
para o
desenvolvimento
e a integração sociais
nos sistemas prisional e de justiça
International CURE
- Blog e
Newsletter
Declaração de Cidadãos Unidos para a Reabilitação de Errantes (Citizens
United for Rehabilitation of Errants – CURE), uma organização não
governamental dedicada à redução do crime e à recuperação e restauração de
pessoas que cometeram crimes
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