Problema original:
Como é possível que as prisões existam? Este foi o
problema original que a teoria dos estados de espírito procurou
responder.
Os presos tornam-se criminosos nas prisões (Universidade
do crime), os povos viciam-se no crime (veja-se o carácter obsessivo e
hipnótico da arte em torno do crime e o papel do crime na animação da
comunicação social) e não se imaginam seguros de si próprios sem prisões
(instituições sacrificiais e expiatórias) apesar dos evidentes
aproveitamentos policiais e políticos que dominam as prisões e, por essa
via, a justiça.
As prisões são, ao mesmo tempo, eventuais escolas de luta
onde a esperança prova ser imbatível, mesmo no inferno. São um exemplo
de segredo social, de mecanismos de auto-censura social, eventualmente
intencional mas mais frequentemente automática (ideológica). Por isso,
em caso de rupturas sociais, é nas prisões onde elas mais se
sentem, quando o inominável passa a poder ser verbalizado e entendido,
isto é efectivamente comunicado. Ler Revault d´Allonnes "Homme fait
l´homme":57
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short English presentation
bref présentation en français
“A human being is spirit. But what is spirit?
Spirit is the self. But what is the self? The self is a relation that
relates itself to itself or is the relation’s relating itself to itself. A
human being is a synthesis of the infinite and finite, of the temporal and
the eternal, of freedom and necessity, in short, a synthesis. A synthesis is
a relation between two. Considered in this way, a human being is still not a
self.”
Kierkegaard (1849/1980) Sickness unto
Death: A Christian Psychological Exposition for Edification and
Awakening, Princeton, Princeton University Press: 13).
“To suggest
that
humans could behave like
atoms was
looked upon as a blasphemy to both hard
science
and human
complexity, a total nonsense, something to be condemned. And it has
been indeed condemned during the last fifteen years.” (2004)
Serge Galam,
founder of sociophysics
Por uma
sociologia da instabilidade
metáfora da definição de sociedade
(definição de níveis e de dimensões)
O
estado-de-espírito, enquanto entidade sociológica, é o inverso da patologia,
da doença, da corrupção, no sentido biomédico.
A descoberta dos efeitos sociais na
vida biológica já foi feita. Por exemplo, quando os hospitais passaram a
aceitar que a presença de familiares dos doentes pode ser importante para a
cura ou a postura de mãos no corpo doente por parte de um profissional tem
efeitos terapêuticos relativamente à dor, por exemplo. A separação das
ciências tem impedido o programa de identificação mais precisa do que esteja
em causa nas sociabilidades e, portanto, nos seus efeitos a nível biológico.
O estado-de-espírito é uma construção
da vida social. Por a vida social ser tão intensa na espécie humana – o que
a distingue das outras espécies – é que o estado-de-espírito é mais nítido e
complexo. E por isso também a dignidade humana mais sensível e difícil do
que a dignidade de outras formas de vida, do ponto de vista de si mesmas.
O estado-de-espírito começa a ser
construído desde a concepção, embora apenas após o nascimento haja a
possibilidade de organizar as suas bases bio-mentais. A psicologia tem
mostrado como os primeiros meses de vida tornam inelástica a mente humana,
caso a sociabilidade não seja suficientemente positiva, construtiva; humana
dir-se-ia num sentido moral.
O habitus é o resultado da
educação social das pessoas e é também a panóplia de estados-de-espírito a
que cada pessoa está habilitada a mobilizar, em função dos seus desejos, das
oportunidades e da inteligência. São as instituições que, em períodos de
aprendizagem, orientam a construção de sentidos que cada pessoa desenvolve
para si mesma, qualquer que seja a altura da vida das pessoas e o seu grau
de desenvolvimento.
Com base nas suas competências e
vocações, cada pessoa observa e age sobre a realidade, incluindo as
instituições sociais, a seu modo. Com uma intensidade decorrente da
avaliação que faz da situação, das emoções que a situação provoca em si, da
capacidade e oportunidade de mobilizar estados-de-espírito orientadores da
acção imediata e, ao mesmo tempo, de darem sentido mais geral à vida pessoal
e social. Tal intensidade pode ser medida em termos de intenção e sentido da
acção, eventualmente racional mas nunca puramente racional.
Da intensidade da acção depende a
percepção própria da configuração e estruturação do todo social e dos seus
diferentes níveis, isto é, a consistência e força das instituições depende
da intensidade das acções sociais a seu respeito.
"Você
sabe com quem está falando?" por Mario Sérgio Cortella
Em vez de “estruturas estruturantes
estruturadas” na dialéctica de Pierre Bourdieu ou da “dualidade estrutural”
que prefere utilizar Giddens, aqui utilizaremos a perspectiva da
instabilidade social, individual e eco-biológica, conceptual-mente fixada no
conceito estados-de-espírito, como forma de integrar o plano das vontades e
intencionalidades individuais tão valorizadas pela modernidade e o plano da
ordem social inelutável, coersiva, capaz de se reproduzir nos mais íntimos
detalhes de forma mimética, contra a qual se rebelam os accionalistas, sem
que todavia possam evitar reconhecer o peso estrutural das sociedades de
origem nos comportamen-tos individuais e sociais.
Estado-de-espírito é um conceito que permite considerar não apenas a
sociedade que existe formal e simbolicamente contida nas suas próprias
representações de si – a reflexividade social de que nos fala Giddens – mas
também a sociedade que se transforma naturalmente, entre o dia e a noite,
nas horas de ponta e nas horas mortas, entre as happy hour e as
madrugadas boémias, ao longo das estações do ano, por alturas das festas
populares e nas ocasiões de pontes e férias, através das gerações, à medida
que os ciclos culturais se tornam mais quentes ou mais frios, mais
cosmopolitas ou exclusivistas, mais proactivos ou resignados, mais
solidários ou mais egoístas, ainda que não se possam observar transformações
estruturais – isto é, institucionais, políticas ou sociográficas –
detectáveis pelos instrumentos de medida estatística mais comummente
utilizados. E mesmo quando as (contra-)revoluções acontecem, para o melhor e
para o pior, e por isso são difusores globais de sentimentos e emoções que
passam a simbolizar: como a esperança na revolução
russa ou o alívio da queda do muro de Berlim, como a revolução dos cravos e
o golpe de Pinochet, no Chile, o Forum Social Mundial e o 11 de Setembro de
2001 em Nova Iorque, etc.
Ler
mais |
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Agenda
A sociologia abandonou o estudo dos
estados de espírito e, por isso, abandonou também uma das principais
intuições da teoria social
para confirmar isso mesmo basta ler o
índice de uma das principais obras de
August Comte
Níveis de
realidade
Trabalhos de publicação
Livros
Espírito
Marginal (2009)
Espírito de
Submissão (2006)
Espírito
de Proibir (2003)
Teses
licenciatura
Espírito
revivalista (Mário Caeiro 2006)
e mestrado
Terrorismo em Portugal (João Camacho)
Capítulos de
livros
Dores,
António Pedro (2006) “Espírito proibicionista e os riscos
penitenciários”, capítulo de Portugal e a Europa: Sociedade,
Estado e Quotidiano, CIES/ISCTE.
Artigos
Dores,
António Pedro, “Os erros de Damásio” em Sociologia Problemas e
Práticas nº 49, CIES/Celta, 2006
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Observatório
Europeu contra a Xenofobia
sediado em Viena de Aústria.
Ver
AQUI.
Cultures & Conflits e Politic
editam artigos sobre campos de estrangeiros e política na Europa Ler
introdução AQUI Ver
índice AQUI também
Porto Alegre se preocupa com esses temas. Ler
AQUI
"nos finais do século XVII o nível de rendimento dos
países (...) era idêntico (...) segundo os cálculos de Paul Bairoch
(...) [valia] entre US$180 e US$190 per
capita. (...) em 1980 seriam de US$3000 [para os países desenvolvidos] e
US$410 [para os países sub desenvolvidos]. (...) A diferença do nível de
rendimento era de 3 para 1 em 1820, tendo-se atingido a relação de 11
para 1 em 1913, a relação 50 para de 1 em 1950 e de 72 para 1 em 1992.
Um em cada cinco habitantes do planeta vive hoje com menos de um dolar
por dia (...) e o valor dos activos das 200 famílias mais ricas do mundo
ultrapassa o rendimento de 41% da população mundial."
Depois de mencionar
Quioto, a água, a luta contra as epidemias ("30 mil mortos por dia para
um lucro de cerca de 20 milhões de euros por dia") o autor refere que "o
liberalismo económico exigiu muitas vezes que fosse sufocado o
liberalismo político" enquanto o desenvolvimento é "´um processo de
expansão das liberdades reais (...) tanto principal fim como
principal meio do desenvolvimento´", citando Amartya Sen.
"´Como é que o
direito e a ordem podem ser mais fortes do que o ser ou o
não ser?´" citando e sublinhando Dahrendorf. "Porque o Estado existe
para ´punir, pelo magistério dos magistrados, o pequeno número de
pessoas que atentam contra a propriedade de outrem´ para garantir a
propriedade ´pela justiça distributiva e poder político e militar´ (...)
É preciso rejeitar a lógica neo-liberal, que deixa de fora da análise
económica e social da realidade o poder (...) temos de ter a
coragem de evitar (...) a censura totalitária do pensamento único (...)"
em Avelãs Nunes (2003)
Neo-liberalismo e Direitos Humanos, Caminho:79 e 80, 88, 101,
106, 116, 120, 121 e 122.
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