Apresentação geral do projecto educativo


Mestrados multidisciplinares em trauma e justiça social

 

Vivemos tempos acelerados pelas tecnologias (de transportes, de organização do tempo) e pelo relativismo moral (misturas sem proporções fixas de capitalismo, socialismo, solidariedade, competição, rigor científico, demagogia, violência, regulação institucional) que expulsam os saberes como torniquetes e valorizam subordinações, entretanto descartadas por ralos de esgoto.

São as circunstâncias referidas (demasiado?) sinteticamente que determinam que as políticas educativas pressionem para uma menor disponibilidade de tempo para formar sociólogos (3 anos actuais comparados com os antigos 5 anos de licenciatura) e fazem apelo à mistura de saberes sociológicos apenas aflorados (provavelmente que não passam ainda de informação) com outras formas de saber (através da profissionalização mais rápida e da perspectiva de acesso a cursos de 2º ciclo de outras disciplinas – mestrados externos ao âmbito da sociologia que estão disponíveis, conforme o desejo de cada estudante).

Um dos maiores problemas de acesso à informação é o excesso de facilidade de acesso e de abundância caótica de sinais. O que torna exigível à produção de conhecimentos melhores e mais profundos critérios de selecção e avaliação da informação, tendo em vista os objectivos específicos a atingir conjunturalmente e as intenções e os interesses desenvolvidos individualmente pelos analistas simbólicos, entre os quais os sociólogos.

No futuro, espera-se que cada estudante possa (e deva) escolher o seu próprio percurso educativo, procurando constituir um pacote singular de competências certificadas que possa fazer sentido ao nível da empregabilidade.

Os riscos de dispersão e desorientação são reais. O retorno à formação académica será, espera-se, uma solução a tornar sistemática, através do conceito de educação ao longo da vida. Onde várias gerações se vão encontrar, em fases diferentes da vida, à procura de melhor compreensão da complexidade social crescente.

 

Do ponto de vista da sociologia, há que 1) encontrar formas adaptadas aos novos tempos de articulação com outras disciplinas práticas e académicas; 2) ser capaz de responder a problemas profissionais e sociais concretos, sentidos pela sociedades e pelos alunos; 3) ser capaz de formular programas de aprendizagem de 2º ciclo que possam aceitar, ao mesmo tempo, licenciados em sociologia e em outras áreas do saber, sem estagnar os primeiros ou deixar para trás os segundos.

Os mestrados “Instituições e Justiça Social, Gestão e Desenvolvimento” e “Risco, Trauma e Sociedade” vão para a segunda edição e procuram responder a estas necessidades, explorando campos multidisciplinares à procura de se poderem constituir em suportes a actividades profissionais emergentes e formas de organização dos saberes necessários aos profissionais encarregues dessas actividades. São mestrados universitários, isto é, directamente ligados a investigação em curso organizada pelos docentes.

Fazem a ponte entre as teorias sociais e as aplicações das doutrinas jurídicas, no primeiro caso, e as aplicações das ciências da saúde, no segundo caso, mediadas pela gestão estratégica e da mudança e pela psico-sociologia, respectivamente, cf. programas acessíveis em http://mijsgd.ds.iscte.pt e http://mrts.da.iscte.pt. Em termos de saídas profissionais pensamos em profissões especializadas mas de largo espectro como sejam os técnicos de emergências – para acidentes de trânsito, catástrofes naturais, ajuda humanitária ou para prevenção das causas das emergências e das suas consequências mais gravosas – os técnicos de saúde a trabalhar na comunidade – para acompanhar a tendência de desinstitucionalização dos cuidados de saúde que se verifica neste sector, a par da intensificação e diversificação dos serviços de apoio a pessoas incapazes de lidar com o seu dia a dia, por doença, deficiência ou velhice – os técnicos de reabilitação social de pessoas e populações excluídas ou em riscos de exclusão – tanto mais necessários quanto maior é a produção social de pessoas e comunidades excluídas – incluindo os técnicos envolvidos nas lutas jurídico políticas contra as exclusões sociais organizadas por instituições que dão prioridade a formas específicas de solidariedade, sejam elas organizações sem fins lucrativos ou com fins lucrativos.

O sucesso destes mestrados e dos nossos alunos depende do percurso de modernização da sociedade portuguesa e da nossa capacidade de corresponder a necessidades sentidas pelas instituições, pelos profissionais e pelas organizações ligadas aos problemas citados. Nesse sentido procuramos estabelecer programas de ligação à sociedade, seja através da organização de eventos académicos ligados a temáticas relevantes – espírito de missão, no ano passado, direito à palavra, este ano – seja através da integração de entidades externas nas tarefas de promoção, avaliação e reflexão sobre o perfil dos mestrados, num Conselho Consultivo. À medida que a experiência nos permitir avançar, em particular à medida que formos sendo capazes de encontrar o modo de, ao mesmo tempo e no mesmo espaço curricular, estimular aprendizagens de profissionais experientes e recém-licenciados, seremos também capazes de desenvolver a autonomia dos alunos na procura de qualificações profissionais relevantes no âmbito exigente da cultura multidisciplinar (pois exige perseguir o domínio teórico de perspectivas cognitivas e disciplinares bastante diferentes entre si), em particular no âmbito da sociologia. Embora existam cursos de mestrado mais especificamente dirigidos para os alunos que pretendam aprofundar estudos em sociologia, os mestrados multidisciplinares oferecerão perspectivas de aprofundamento do estudo das teorias sociais, seja no âmbito dos laboratórios do primeiro ano, seja no âmbito da preparação da dissertação, através da orientação. A concretização de tais perspectivas exigem aos alunos interessados decisão e empenhamento diferentes dos mestrados em sociologia, já que devem assinalar isso junto dos docentes de sociologia que os possam orientar nesse caminho.

 


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