Revista jus-socio-económica

 Fraternitates

prepara um novo regime democrático




Bocas


Prioridades

a) vamos seguir a recomendação do Rui: trabalho não. Desejo e vontade sim. Quer dizer, não vamos ajudar ninguém. Vamos juntar os nossos desejos (mais os desejos de quem vier) porque assim os desejos de cada um serão mais fortes e claros. 

b) prioridade das prioridades: arranjar um sistema cola capaz de integrar todos os desejos. O que temos tradicionalmente, desde pelo menos a revolução francesa, é sistemas políticos independentes entre si (social, economia, cultura, estado (finanças, repressão e guerra)) Ora é preciso darmo-nos conta que esta separação - que é ao mesmo tempo ministerial e mental - separa, por exemplo, a exclusão e a miséria e os direitos humanos da riqueza, do trabalho e do poder. É por isso que keynesianos e neoliberais estão de acordo em dizer que com o crescimento tudo se resolverá. Na verdade não resolverá: primeiro por dificilmente haverá crescimento na Europa. Depois, se viesse a haver crescimento seria uma coisa boa para os trabalhadores e para as suas conquistas laborais. Mas a crise ecológica e social (o aumento do número de excluídos e sem direitos) não pararia de aumentar. 
Prioridade: conceber um outro modo de pensar a política que passe por recusar a separação clássica atrás mencionada e, para isso, é preciso trocá-la por outro modo de organizar o pensamento, as universidades e os governos. Trocar uma ideologia de conflito entre interesses por uma ideologia de harmonização da conservação (da natureza) e da liberdade de acção (dos excluídos para a sua emancipação). Isso ancoraria directamente na discussão da constituição.

 
O CIDAC pode ajudar nisso (tem publicações de crítica ao desenvolvimento, excelentes). Discutir a justiça Transformativa também ajudaria. Entender o RBI como um processo de transformação social a partir da racionalização das políticas sociais seria outra linha de pensamento. A reforma das Ciências Sociais para que continuem o seu trajecto para se virem a tornar ciências um dia, em vez de ser uma área dispensável, de que apenas se vale a pena salvar a gestão, é outra ponto por onde julgo saber pegar.

 
Imaginei a possibilidade de se organizar uma revista online para juntar contributos para este tipo de discussões   http://home.iscte-iul.pt/~apad/revistaFraterna/ que não foi muito longe. Talvez um blog seja mais adequado, desde que nos preocupemos em "harmonizar" as nossas acções e pensamentos (o que não evita - pelo contrário - promoverá conflitos. Mas conflitos não em torno de interesses económicos mas da libertação dos que não têm tido condições de viver a plenitude das potencialidades humanas, na natureza com a qual estamos - quer queiramos quer não - em simbiose).     

APD, 2014-10-01


A jus fraternidade

Quanto à Fraternidade, não me parece que ela deva ser tratada sem a menção referêncial (do Direito) ao bom pai de família (o bom pai de família será aquele que, mais inteligente ou menos, mais liberal ou mais severo, ama a sua gente, porque como diria o Locke o Pátrio Poder está constitucionalmente limitado pela ternura). Ocorre porém que o Rei-Pai (ou o Batuska-Tzar) ardendo embora em amor pelos seus filhos simbólicos, foram nitidamente vitimados pela infelicidade disso mão se em notar e em nada boa parte do tempo. Depois, a malta estava obrigada à deferência religiosa pela representação simbólica da origem comum da vida da comunidade que o Rei seria, sendo certo que se notava pouco que ele cuidasse da vida dos demais como convinha a essa própria vida. Parece pois fazer algum sentido que caído o poder do pai, se instaure o poder dos filhos, com expressa proibição da sucessão simbólica. A referência política deixa pois de ser a do poder do pai. E passa a ser a do poder dos irmãos iguais entre si, à luz da Razão que é o fundamento (bizantino, e nem sequer por acaso) da unidade do género humano e, a um tempo, da própria consciência dessa unidade. Os ensinamentos fundamentais são ainda religiosos, curiosamente. (O Contrato está nas Sagradas Escrituras como fundamento do Estado, quando, como o lembra Spinosa, os Hebreus, cuidando que as coisas humanas deviam ser decididas por homens, interpelam Deus e lhe dizem -"Dá-nos um rei". E Ele ficou bastante aborrecido; muito irritadiço, até. Mas deu. Há uma projecção aqui. As nossas coisas devem ser decididas por nós e à nossa escala. O rei de Direito Divino que em Liturgia funciona como segunda manifestação da presença da Glória de Deus, esse Rei não é para repetir. E todavia, quem tenha tido essa experiência de Estado, vai repetindo esse rei, mesmo em República. Mesmo com a referência da fraternidade, que, sim, cai... desaparece, não sendo nem referida, nem citada, nem pensada. E regressa. Em revolta ou em Revolução, sob muitas formas, a mais recente das quais é a forma da fraternidade de armas, adoptando como tratamento igualitário a forma de tratamento dos soldados entre si: - camarada.
Não acho difícil falar da fraternidade. Acho mais difícil preservá-la.

José Preto, 10/Out/2012


Produtividade e organização

Dois dos problemas portugueses mais graves sempre notados mas jamais enfrentados são a produtividade e a organização. Certamente porque o interesse das classes dominantes não passa por lhes dar resolução.

Cabe-nos a nós dar-lhes resposta. A começar por uma boa definição. Produtividade poderá ser a arte de trabalhar menos e ser mais disponível para a vida social, em alternativa à ideia corrente de termos de passar a viver como os chineses (como antes foram os japoneses). Organização poderá ser a arte de auto-administração da vida, sem patrões ou chefes.

Politicamente a produtividade deverá ser compatibilizada com a distribuição dos rendimentos de modo a assim - por efeitos naturais já cientificamente identificados - prevenir os males sociais e investir mais tempo em actividades de solidariedade, com a mesma finalidade - sem fins lucrativos ou de endoutrinação.

A organização deveria atender em primeira linha a critérios morais, criando as condições para que cada dirigente ou político estivesse sempre sob tutela de um grupo social que lhe seja próximo (freguesia, associação cívica) de modo a ser possível responsabilizar ambos (individuo e grupo que o promove) pelos resultados políticos alcançados. Premiando-os ou condenando-os politicamente.

António Pedro Dores, 10/Out/2012


 

 

  volta ao início da página