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A
ACED pede investigações capazes de explicarem a enorme quantidade de
mortes nas prisões portuguesas
Na posse dos dados mais
recentes dos mortos nas prisões portuguesas, disponibilizados através da
resposta ao pedido parlamentar de informação de iniciativa do Partido
Ecologista Os Verdes, constatando que o obituário se mantém sistematicamente
alto, sem que se entendam as causas, a ACED - como forma de apoio às medidas
de protecção da saúde dos presos recentemente anunciadas pelo governo -
reclama das autoridades competentes investigações criminais e de saúde
pública susceptíveis de fazerem luz neste ponto. Ler
AQUI.
Obituário
oficial 2005
Com registo de 94 mortos nas prisões portuguesas em 2005,
verifica-se um aumento de 10 mortos relativamente ao ano de 2004. A taxa de
mortalidade aumentou de entre as mais altas de Europa, incluindo os países
de Leste, com 64 mortos por 10000 reclusos para as mais altíssimas da
Europa, com o impressionante número de 72 mortos por 10000 reclusos.
Este é o resultado mais que objectivo – oficial –
das condições de encarceramento em Portugal, que continuam a fazer do
cumprimento de pena de prisão um morticínio irresponsável, com que o Estado
(governo, parlamento, presidência da república, administração) convive sem
reacção. Os anúncios de reforma das prisões, que jamais se referiram a este
indicador como relevante e prioritário, têm servido para reagir às denúncias
como nuvens de fumo, enquanto a indignação se dissolve na miséria putrefacta
da nossa (falta de) ética colectiva.
Ler dados oficiais
AQUI
Estamos
Fartos de Mortes nas Prisões
Foi assim que nos dirigimos à
opinião pública em Fevereiro de 2004, depois de um apelo
natalício que dirigimos também ao
Parlamento. À
Procuradoria Geral da República perguntámos como eram investigados os
casos de morte na cadeia, com base num
memorando sobre a nossa própria experiência no terreno..
Das audiências resultaram diferentes conclusões: a) na sub comissão de
Justiça e Assuntos prisionais informaram-nos os deputados da respectiva
indisponibilidade para considerar as realidades, que todavia reconheceram
existir; b) na Procuradoria Geral da República pediram-nos que enviássemos
um
memorando com as nossas sugestões.
Voltamos
a viver em Fevereiro de 2005 o mesmo que um ano antes. E no ano anterior
também, de outra maneira.
Mais uma morte por alegado suicídio em cela disciplinar,
pouco tempo depois do preso aí ter entrado, seguindo-se um jogo de gato e
rato com a família, antes que esta fosse informada do sucedido e do
paradeiro do corpo. Ler
ofício.
É altura de verificarmos o uso que a PGR fez do nosso
memorando. Por isso pedimos
audiência.
Eles falam, falam, e não fazem nada
Esta foi a mensagem de Natal em 2004, em que se faziam um balanço possível
sobre o obituário prisional comparado entre Portugal e a Europa.
Leia.
Que esperança podemos esperar ter?
Dados
oficiais
É raro haver dados oficiais sobre obituário
prisional. Porém, em Dezembro de 2004, por insistência da deputada Isabel
Castro, que teve a gentileza de nos enviar cópia, foi possível ter acesso a
dados recentes do que se passa nas cadeias.
Os dados fornecidos referiam-se aos primeiros
5 meses do ano. Curiosamente, ou talvez não, os serviços prisionais reagiram
à sua divulgação pública corrigindo-os com dados actualizados ao dia. Porque
os dados apresentados eram preferíveis do que as estimativas que foram
calculadas a partir dos dados recebidos. Isto é, na segunda metade do ano de
2004 terão falecido menos reclusos que na primeira parte do ano.
Duas perguntas:
a) há uma regularidade de maior obituário no
primeiro semestre do que no segundo? Se sim - o que seria preciso poder
verificar registos de outros anos - que causas poderão estar na origem de
tal facto?
b) será possível disponibilizar informação
actualizada e fiável sobre este assunto? Porque não tem sido possível até
agora?
Os dados:
Quadro
1. Óbitos em EPs portugueses entre 1 de Janeiro e 31 de Maio de 2004
|
Total nacional |
EP Centrais e
Especiais |
EP Regionais
|
|
42 mortos |
30 mortos |
12 mortos |
suicídios |
12 |
11 |
2 |
por doença |
29 |
19 |
10 |
no HP Caxias |
4 |
3 |
1 |
em hospital civil |
2 |
1 |
1 |
preventivos |
28 |
17 |
11 |
primários |
12 |
6 |
6 |
Casos divulgados
pela ACED |
2 |
2 |
|
Fonte:
DGSP – resposta de 2 Dez 2004do Ministério da Justiça aos 3 requerimentos da
Deputada Isabel Castro do PEV, de 12/3, 15/4 e 6/5 do ano de 2004
Quadro
2. Óbitos em EPs portugueses entre 1 de Janeiro e 31 de Maio de 2004
(valores
relativos – probabilidade de ocorrências por 10 mil reclusos)
|
Total nacional |
EP Centrais e
Especiais |
EP Regionais
|
|
31,6 |
30,8 |
33,6 |
suicídios |
9,0 |
11,3 |
5,6 |
por doença |
21,8 |
19,5 |
28,0 |
no HP Caxias |
3,0 |
3,1 |
2,8 |
em hospital civil |
1,5 |
1,0 |
2,8 |
preventivos |
21,0 |
17,5 |
30,8 |
primários |
9,0 |
6,2 |
16,8 |
Fonte:
DGSP – resposta de 2 Dez 2004do Ministério da Justiça aos 3 requerimentos da
Deputada Isabel Castro do PEV, de 12/3, 15/4 e 6/5 do ano de 2004
Considerámos 9736 e 3576 os números de presos dos EP Centrais e dos EP
Regionais respectivamente (fonte: revista Sábado de 11 de Fevereiro)
Portugal mantém lugar de topo
dos sistemas prisionais mais mortíferos do Conselho da Europa.
Esta é a principal conclusão a tirar dos números recentemente
arrancados por via parlamentar, por insistência do Partido “Os Verdes” e em
particular da deputada Isabel Castro, que registam mais 42 óbitos só nos
primeiros cinco meses do ano de 2004. Sem que o governo, as magistraturas, a
advocacia ou sequer o Provedor de Justiça (a quem Portugal deve a abertura
do debate sobre as prisões) tenham sentido ser seu dever definir objectivos
de drástica redução dos números citados.
Desde o primeiro relatório do Provedor de Justiça, em 1996,
os governos e as campanhas eleitorais têm prometido reformas nas prisões.
Apesar das declarações em voz alta, fazem vencimento as vozes cépticas sobre
a existência de vontade política genuína de ultrapassar o imbróglio político
que é o sistema prisional português. Entretanto, pode matar-se impunemente
nas prisões que ninguém jamais consegue ter força para descobrir o que se
passou em cada caso concreto, nem ninguém de direito tem assumido a
dignidade suficiente para lutar por oferecer aos portugueses critérios e
lições de justiça neste campo, como mandaria um Estado de Direito.
A ACED não tem condições de organizar o circo mediático
utilizado aquando do anúncio do último ensaio de Reforma Prisional. A ACED o
que promete é manter-se firme na promoção da Justiça para os portugueses por
igual, sejam os que actualmente estão dispensados de prestar contas à
justiça, sejam aqueles a braços com problemas judiciais, sejam os outros, a
quem a justiça é negligente e criminosamente madrasta.
Quadro 3 – Taxas de mortalidade nas
prisões na zona do Conselho da Europa, 1997
|
Deaths per 10 000 prisoners |
Média dos números
existentes (#31 países) |
21 |
Média dos 10
países com mais mortes registadas |
58 |
|
|
Portugal |
106 |
Rússia |
78 |
Moldávia |
65 |
Letónia
|
59 |
Bélgica |
59 |
Dinamarca |
56 |
Bulgária |
46 |
Finlândia
|
40 |
França |
37 |
Escócia |
32 |
Fonte: Deaths in penal
institutions (1997)
Council of Europe
Portanto, Portugal registou uma taxa de mortalidade na prisão
que é:
- O dobro da média dos
10 piores países do Conselho da Europa e da Bélgica e da Dinamarca,
países da Comunidade Europeia que vêm logo a seguir;
- Mais do triplo do
décimo país na lista;
- Cinco vezes mais do
que a média de todos os países do Conselho da Europa com dados apurados
- A Espanha, com
problemas de segurança bem mais graves que o nosso país, tem uma taxa de
18 falecidos por 10 mil presos, abaixo da média que é 21.
Quadro 4 -
Taxas de mortalidade nas prisões do Conselho, ano 2000
|
Taxas de
mortalidade por 10 mil detidos no ano 2000 |
Albânia |
6,8 |
Andorra |
0 |
Arménia |
95 |
Áustria |
52 |
Bélgica |
42 |
Bulgária |
31 |
Croácia |
28 |
Chipre |
0 |
República Checa |
14 |
Dinamarca |
27 |
Estónia |
15 |
Finlândia |
17 |
França |
46 |
Alemanha |
20 |
Grécia |
31 |
Hungria |
34 |
Islândia |
0 |
Irlanda |
31 |
Itália |
30 |
Letónia |
43 |
Lituânia |
31 |
Luxemburgo |
? |
Malta |
0 |
Moldávia |
93 |
Países Baixos |
14 |
Noruega |
0 |
Polónia |
16 |
Portugal |
60 |
Roménia |
25 |
Rússia |
--- |
Eslováquia |
15 |
Eslovénia |
68 |
Espanha |
20 |
Suécia |
21 |
Suíça |
--- |
Macedónia |
28 |
Turquia |
18 |
Ucrânia |
74 |
Inglaterra e País
de Gales |
24 |
Irlanda do Norte |
61 |
Fonte: Conselho da Europa, Space 2001.12
35 |
média de 13 países
EU |
31 |
média dos que
apresentam contagens |
63 |
média dos 10 piores |
|
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