12ºaniversário
Debate
público
3 Abril 2009
jantar
ACED
4 Abril 2009
COMÍCIO BEBÍCIO
Parabéns ACED
O 8º aniversário da
ACED produziu seis comunicações apresentadas a uma assembleia de uma
trintena de pessoas, metade delas capazes de resistir das 18:00 às
21:20, quando o bom-senso, mas não a vontade, terminou o evento.
O que tem (teve) de extraordinário reunir
●
ALBERTO TORRES / Presidente da ASPP/PSP
●
BARRA DA COSTA / Antropólogo, ex-PJ
●
PEDRO ABREU
/ APG/GNR
●
MAMADU BA
/ SOS Racismo
●
MANUEL CARVALHO
/ Presidente do SNCGP/Prisões
●
MARGARIDA MEDINA
MARTINS / Associação de Mulheres Contra a Violência
numa mesma mesa? A
mesma qualidade cívica das intervenções uniu o que se quer fazer parecer
radicalmente oposto? Os segredos que puderam ser singelamente
desmascarados pelas experiências de vida? A complexidade de um debate
fundamental de que se foge como o Diabo da Cruz? A expressão da vontade
de cada um fazer valer os respectivos direitos de forma solidária com os
companheiros, com vista para o desenvolvimento social?
A ACED teve
autorização para gravar as intervenções – o debate ficará apenas na
memória de quem o viveu. Logo que nos vier a ser possível produzir as
transcrições, divulgaremos uma brochura com as comunicações, na sua
versão autorizada pelos autores.
Para abrir o apetite diremos que se falou de
coisas como, os factos consumados com que se confrontam os profissionais
de segurança, sem que a informação pertinente seja recolhida e as acções
de prevenção executadas, até porque a hostilidade que se vive entre
populações mais vitimadas pela criminalidade e as autoridades o impede,
ou pelo menos dificulta; a necessidade de distinguir o que seja
violência, pobreza, exclusão e criminalidade, de facto tudo formas
diversas e não coincidentes de acontecer sociedade: por exemplo, que
pensar sobre a melhor reacção que se pode esperar dos que se vêem
impedidos de ter acesso a recursos mínimos para sobreviver?; o
constrangimento causado pela inépcia nacional para encontrar bons
valores para o nosso desenvolvimento bloqueado, contra os interesses
corporativos; a luta pelo direito ao lugar, num espaço público aberto à
participação daqueles que dele mais precisam, em vez da política de
alheamento perante a violência dos "de baixo", confundindo crime e
legítimas aspirações populares; a inversão de responsabilidades,
nomeadamente nas prisões, onde se aplica bem a anedota de quem quem faz
tudo ainda é responsabilizado pelo que não funciona, acusados pelos que
apenas se auto-atribuem a condução formal e irresponsável do ingovernado;
a escolha criteriosa das partes da Lei que são para cumprir (e em que
circunstâncias) tornando o soberano - o Povo - no mesmo joguete que
Bordalo caracterizou; a ignorante hipocrisia que concebe o lar como o
centro da pacificação social, quando se sabe ser precisamente aí onde se
contam o maior número de vítimas da violência: as mulheres e as
crianças, em números superiores que as baixas de guerra (cf. dados da
ONU).
Obrigado
Um combate
que vale a pena
António Alte Pinho - Jornalista, fundador da ACED
Costumamos dizer que poderíamos extinguir esta associação pois, só por
si, já alcançou o principal objecto que esteve na sua génese: resgatar
as prisões do segredo de Estado a que os vários governos as haviam
votado. É que, comparativamente ao ano de 1997 – altura em que a ACED
foi fundada - muito mudou no que respeita à exposição pública das
problemáticas prisionais.
Obviamente que
não está nos nossos horizontes acabar com a associação, por muito que
isso fosse simpático para alguns sectores da sociedade. Mas foi preciso
um combate firme, decidido e desigual, comparativamente aos meios e
cumplicidades de que gozam os cultores de silêncios, para impor de forma
clara a verdade das nossas razões.
Durante
muito tempo pendeu sobre mim o estigma de “radical” e, mais ainda, o de
ex-prisioneiro, intentando-se acantonar a ACED à minha pessoa com vista
a isolá-la social e politicamente. Mas fizeram mal as contas! A
associação cresceu em prestígio social e eu, pela parte que me toca,
afirmei-me profissional e civicamente.
Em
tempo de comemoração do nosso 8º aniversário, apetece-me dizer que o
nosso combate valeu a pena, apesar de alguns de nós termos sido
prejudicados nos planos cívico e profissional. A expressão desse combate
alterou-se mas a sua natureza mantém-se imutável. Nós andamos por aí.
Cuidem-se!
Ñ
Participe e divulgue: Download
AQUI o Cartaz
COLÓQUIO
VIOLÊNCIA URBANA
UMA INEVITABILIDADE SOCIAL?
Moderador:
António Pedro Dores
/
ACED
●
ALBERTO TORRES
/ Presidente da ASPP/PSP
●
BARRA DA COSTA
/ Antropólogo, ex-PJ
●
JOSÉ MANAGEIRO
/ Presidente da APG/GNR
●
MAMADU BA
/ SOS Racismo
●
MANUEL CARVALHO
/ Presidente do SNCGP/Prisões
●
MARGARIDA MEDINA
/ Mulheres Contra a Violência
ISCTE / 7 de ABRIL / 18h.
Auditório B1.03 – Edifício II – Av. das Forças Armadas |
A autoridade do Estado
e as
prisões, em Portugal
António Pedro Dores - Sociólogo, fundador da ACED
A ACED comemora o seu 8º aniversário de
actividade quando os portugueses resolveram entregar a um dos
partidos de poder o encargo de transformar o País, de modo a que o
Estado deixe de estar estrangulado pela conjugação das políticas de
establização monetária do Euro e pela falta de recursos fiscais para
atender ao crescimento das despesas do Estado.
Boas notícias têm vindo de Bruxelas, que
permitem investimentos contra-ciclicos orientados para programas de
desenvolvimento de competências profissionais e tecnológicas. Em
Portugal discute-se se será mais a despesa do Estado – e, portanto,
os serviços sociais – que deverá ser pressionada ou a produtividade
e eficiência do Estado, em particular no campo fiscal. Enquanto
isso, ronceiramemnte como sempre, os portugueses aguardam as
respostas judiciais a casos mediáticos envolvendo abuso de crianças
à guarda do Estado e abusos de poder em autarquias e futebol. Dos
respectivos desfechos irá depender a moral social em Portugal, que
se precisa em alta, para os tempos que se avizinham.
Avizinha-se
uma primavera do regime democrático. Portugal precisa confrontar-se
com o seu impraticável modo de vida. Depois de ter emergido da
cruzadas, expulso muçulmanos, judeus e jesuítas, Portugal soube
fazer as pazes com todos os seus “inimigos”. Agora precisa de romper
com a semi-milenar tradição do “desenrasca”, que tem
consistido na exploração politicamente organizada das
matérias-primas coloniais, entregues em bruto aos países
desenvolvidos, a que mais recentemente nos queremos juntar. As
nossas aspirações ao modo de vida moderno - podemos e devemos
concluir - não são compatíveis com a manutenção da lógica da rapina,
sustentada em fortes desigualdades sociais. Isso significa uma
radical mudança da mentalidade de subserviência perante o
estrangeiro, de superioridade perante o trabalhador e de descrença
face ao rigor profissional.
O
que é que isto tem a ver com prisões, perguntará o leitor sabedor da
nossa actividade cívica na ACED. Tudo! As instituições penais são
espelho da justiça dum país, bem como do seu profissionalismo. Não é
por acaso que a civilização ocidental escolheu os Direitos Humanos,
ainda que muitas vezes de forma hipócrita, como instrumento moral da
sua identidade perante as outras civilizações: ser capaz de
respeitar os Direitos Humanos é uma possibilidade própria dos países
democráticos, que os outros estão em piores condições para
assegurar. Ter empenho em fazê-lo melhor – como se pode ver a
propósito dos tratados internacionais contra a Tortura e Maus
Tratos, ou do debate sobre Guantanamo e Abu Grahib, ou do debate a
respeito da candidatura da Turquia à União Europeia – é também
critério de modernização. Ora, em Portugal, depois do choque
político da revelação das condições deploráveis das prisões
portuguesas, através do relatório do Provedor de Justiça em 1996,
nove anos depois das promessas reformistas do PS e do PSD/CDS – que
chegou a publicitar, manifestamente contra vontade, o documento de
Freitas do Amaral – não foi possível irradicar o intolerável balde
higiénico, nem as mortes suspeitas investigadas de forma
insusceptível de dar confiança aos interessados. O obituário
prisional continua no ranking dos mais volumosos do Continente. A
legalidade é assumidamente não respeitada dentro das prisões, o
Parlamento, o Ministério Público, os magistrados judiciais conhecem
a situação e preferem não intervir, mesmo quando confrontados com
casos limite encobertos activamente pelas instituições que deveriam
reportar, de forma profissional, os factos.
«A legalidade é assumidamente não respeitada dentro das prisões, o
Parlamento, o Ministério Público, os magistrados judiciais conhecem
a situação e preferem não intervir, mesmo quando confrontados com
casos limite encobertos activamente pelas instituições que deveriam
reportar, de forma profissional, os
factos.»
Que políticas penitenciárias poderão o
governo desenvolver nestas condições de generalizada anomia judicial
e profissional? Castigar, como tem sido o mote, proactivamente os
presos e os guardas de forma arbitrária, sem melhorar as condições
de legalidade e de moral na vida prisional, onde a economia paralela
é a lei? Ou tratando de reduzir radicalmente as taxas de reclusão
para níveis europeus (1/3 dos actuais), ou proporcionais aos níveis
de criminalidade violenta verificados no nosso país (ainda mais
abaixo)? Porquê hesitar na resposta numa situação financeira como a
actual, sabendo-se dos elevados custos de manutenção dos sistemas
penitenciários? Quando faltam recursos para a luta contra o crime
económico, para o acompanhamento social dos ex-prisioneiros de modo
a reduzir as elevadas reincidências, a necessidade de dotar de meios
mais profissionais as polícias e o corpo de guardas?
A política penal é das moral e
intelectualmente mais exigentes. Até agora, em Portugal, as
repressões policial e penitenciária sobre os mais pobres dos pobres
da União Europeia, no país onde se observam as maiores desigualdades
sociais, tem sido a mais brutal e fora da lei. Isso não pode ser
explicado pela tendência dos portugueses para a violência e a
discriminação, que também existe mas não é evidente que seja maior
que noutros países. Isso não pode ser explicado pelo carácter dos
presos ou dos guardas portugueses, a quem cinicamente é fácil
estigmatizar. Porque nada disso explicará a indiferença e a
cumplicidade de várias autoridades do Estado, aos mais variados
níveis, na manutenção desta vergonhosa situação. Por que é que
perante a quebra da linha de comando entre o Estado e os poderes
fácticos que tomaram o sistema prisional, perante a desautorização
sistemática dos agentes do Estado profissionais na sua luta contra
os oportunistas e os criminosos (que todos têm medo de denunciar,
sob pena de gravosas consequências, como a morte para os presos ou o
despedimento para os guardas), os mais altos magistrados da Nação
desistiram de dar prioridade política à Reforma Prisional?
«Que políticas penitenciárias poderá o governo desenvolver nestas
condições de generalizada anomia judicial e profissional? Castigar,
como tem sido o mote, proactivamente os presos e os guardas de forma
arbitrária, sem melhorar as condições de legalidade e de moral na
vida prisional, onde a economia paralela é a lei?»
As
finanças do Estado e o prestígio de Portugal junto dos nossos
aliados são tópicos fundamentais da política. Mas para
transformarmos a nossa economia, para deixarmos de explorar a
mão-de-obra barata dos nossos pobres, sem educação nem formação
profissional, precisamos abandonar os conceitos discriminatórios das
nossas classes dominantes, usados secularmente para iludir as contas
públicas sobre as fontes comerciais de riqueza, com origem nos
negócios de matérias-primas entre o terceiro e o primeiro mundos.
Actualmente, o Extremo Oriente tomou para si essa tarefa, com níveis
de discriminação social impraticáveis mesmo em Portugal. Para
transformarmos a nossa economia têm que ser perseguidos os
exploradores de mão-de-obra escrava dos imigrantes ilegais, como tem
que ser perseguidos os que usam as instituições do Estado para
explorar crianças, como têm que ser perseguidos os que lucram da
desregulação das nossas prisões. Tem que ser denunciadas as
cumplicidades que têm permitido a estes “empresários” existirem
impunemente. Sem que isso aconteça, nenhum governo poderá beneficiar
da confiança social, em particular daqueles que mais precisam ser
integrados na sociedade portuguesa do futuro: os mais
desqualificados e discriminados entre os portugueses. Que são
muitos, ainda que com voz temente.
Ñ
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