Sociologia da Violência

Ramo do Mestrado de Sociologia ISCTE-IUL 

 




Agenda - ENGLISH VERSION


2020


 

O trabalho incluirá

leitura de texto base: Violência em sociedade

a) leitura prévia dos textos escalados para cada aula e sumários

 

b) a análise sociólogica de um caso de violência da responsabilidade de cada estudante, que a apresentará no relatório final

 

Dia 23 de Fevereiro - inscrever o título do caso a estudar

 

Dia 16 de Março - descrição escrita (mínimo 3500 caracteres) do caso de violência com base em informação da internet (10%)

 

Dia 13 de Abril - descrição escrita (mínimo 7000 caracteres) dos principais fluxos de violência e de contra violência presentes no caso em estudo - fazer mentalmente e descrever zoom out e zoom in (efeitos de estrutura e efeitos psicológicos). Usar a definição de violência como "redução ao corpo". Evitar juízos morais.(20%)

 

Dia 27 de Abril - entrega de plano metodológico (mínimo 2000 caracteres) (30%)

 

Até 24 de Maio entrega do trabalho individual final (entre 25.000 e 70.000 caracteres): com uma análise sociológica completa da violência envolvida no caso estudado, no quadro dos valores sociais em presença. (40%)

 

 


2019


 

O trabalho incluirá

 

a) leitura prévia dos textos escalados para cada aula

 

b) a análise sociólogica de um caso de violência da responsabilidade de cada estudante, que a apresentará no relatório final

 

Dia 11 de Fevereiro - inscrever o título do caso a estudar

 

Dia 25 de Fevereiro - descrição escrita (mínimo 3500 caracteres) do caso de violência, com base em informação da internet

 

Dia 18 de Março - descrição escrita (mínimo 7000 caracteres) dos principais fluxos de violência e de contra violência presentes no caso em estudo - fazer mentalmente e descrever zoom out e zoom in (efeitos de estrutura e efeitos psicológicos). Usar a definição de violência como "redução ao corpo". Evitar juízos morais.

 

Dia 8 de Abril - entrega de plano metodológico (mínimo 2000 caracteres)

 

Até 20 de Maio entrega do trabalho individual final (entre 25.000 e 70.000 caracteres): com uma análise sociológica completa da violência envolvida no caso estudado, no quadro dos valores sociais em presença.

 


2017


 

O trabalho incluirá a análise sociólogica do uso de palavrões, como violência simbólica.

 

Até dia 26 de Março - a partir da definição de violência e descrever os principais fluxos de violência e de contra violência presentes na história descrita - fazer zoom out e zoom in para focar um objecto de estudo a que se possa chamar violência em sociedade. Violência reveladora da vida em sociedade, como parte integrante das práticas sociais, antes destas serem classificadas como boas ou más.

 

 

Até 19 de fevereiro, cada estudante apresentará por escrito um episódio ou uma história que inclua o uso de um palavrão. Deverá também procurar as origens etimológicas desse palavrão.

 

O trabalho individual é produzir uma análise sociológica da violência envolvida, com base na definição de violência adoptada ("redução ao corpo") e da caracterização da organização social como misógina, elitista e dissimulada. Ver exemplo.

 


2015


Etapa de trabalho 2.

Os estudantes deveriam cumprir as etapas de avaliação previstas para 16 e 23 d Março.
http://home.iscte-iul.pt/~apad/MSV/avaliax.htm

Etapa de trabalho 1. (até 23 Fevereiro)

I. Produção de um portfolio sobre um dos eventos de Paris, 7 Janeiro 2015, contra o Charlie Hebdo:

II. Descrição do episódio de violência, tal como foi vivido pessoalmente e tal como aparece descrito numa fonte à escolha, para trabalhar durante o semestre:

a) escolha de um aspecto do episódio para estudo mais detalhado (a preparação, a execução, os apoios locais, o recrutamento para a Síria, as ligações ao Íemen, a papel dos serviços secretos, a reacção da polícia, a caça ao homem, o ataque ao supermercado judeu, as caricaturas, a manifestação em Paris de repúdio pelo acto, a posição do Papa, etc.)

b) descrição dos acordos e das contradições na descrição do aspecto particular a estudar, a partir de várias fontes. (tabela com colunas por cada fonte)

c) caracterização das fontes utilizadas e comparação entre elas (cerca de 1 página);

d) comentário sobre o aspecto destacado do episódio: quem agiu correctamente e quem agiu erradamente (questões morais e pragmáticas deve ser consideradas)? Nomeadamente quem foram os protagonistas (agressor(es) e vítima(s), relações anteriores entre si que favoreceram ou evitaram a violência, armas disponíveis e capacidades de as usar); que ambiente social enquadrou a violência (agentes de autoridade, pessoas presentes, momento histórico); (cerca de 1 página);

e)  Havia alguma hipótese de evitar a violência? Como? Que se pode fazer para a evitar no futuro?(1/2 página)


2014


Etapa de trabalho 4.

Identificar um segredo social que intervenha no cenário da violência descrito

Etapa de trabalho 3.

Caracterizar o espaço, tempo e nível de realidade da violência a ser tratada

estigmas, armadilhas da pobreza, portas giratórias das prisões: identificação de sindromes sociais (construção social da interacção, do controlo e da imaginação)

Etapa de trabalho 2.

Fixar elementos de caracterização das situações descritas através da recolha de toda a informação disponível sobre: a) agressor(es); b) vítima(s); c) testemunhas e assistentes; d) palco criado pelo meio, arquitectura, tecnologia e ambiente emocional; e) fluxo de sintonizações entre protagonistas; f) momentos de transformação violenta ou encaminhamento de túneis de acção violenta; g) oportunidades de prevenção da violência

Etapa de trabalho 1. (até 24 Fevereiro)

Descrição de um episódio de violência para trabalhar durante o semestre

a) um parágrafo sobre como o estudante deparou com o episódio e porque decidiu escolhê-lo para este trabalho;

b) descrição neutra do que for relevante na cena de violência: quem foram os protagonistas (agressor(es) e vítima(s), armas disponíveis e capacidades de as usar) e que ambiente social enquadrou a violência (agentes de autoridade, pessoas presentes, momento histórico); (cerca de 4 páginas);

c) comentário sobre o episódio: quem agiu correctamente e quem agiu erradamente (questões morais e pragmáticas deve ser consideradas)? Havia alguma hipótese de evitar a violência? Como? (cerca de 1 página)

 

 

Definir violência, como fenómeno social

Violência social é uma elevação insustentável dos níveis de energia impostos às relações sociais, cuja finalidade/intenção/resultado é a de conformar o comportamento de umas partes (as vítimas) à vontade de outras partes (as pessoas violentas).

Assim definida a violência é uma forma de exercício do poder (a par de outras, como a sedução, a argumentação para convencer) e pode ser medida se se souber como medir os níveis de energia investidos nas relações sociais, se se souber o que seja a vontade e intenções, se se souber medir a conformidade dos comportamentos a forças exteriores, e se se organizarem séries temporais com essas informações (referidas a um sujeito social a analisar) associadas aos contactos sociais que ocorrem ao mesmo tempo.

Não está incluída nesta definição a violência da natureza, isto é, a resultante de acidentes e catástrofes, por sua mais ou menos directamente associada às violências sociais através dos riscos e das resiliências desigualmente distribuídas, também em função das relações sociais.

As pessoas ou grupos violentas, por hipótese, vêm reforçadas as suas vontades e intenções depois de um aumento de nível da energia social, e as pessoas ou grupos vítimas inflectem as respectivas vontades e intenções a seguir a um acto de violência. Inflectem no sentido da conformidade com os desejos e interesses dos violentos ou no sentido de se libertarem da relação violenta, desenvolvendo práticas de marginalidade (libertação ou emancipação).

"violence is the intentional use of physical force or power, threatened or actual, against oneself, another person, or against a group or community, that either results in or has a high likelihood of resulting in injury, death, psychological harm, maldevelopment or deprivation" definição da Organização Mundial de Saúde/World Health Organization

Problemas

Se esta for uma boa definição sociológica do que seja a violência, porque razão a teoria social não a definiu, não a divulga e ensina, não a trabalha? Mais: se o centro das atenções da teoria social são as relações de poder, como é possível teorizar sem manter uma linha de investigação atenta ao tema da violência?

Para o compreender há que procurar trabalhar sociologicamente a violência, compreender as potencialidades e os limites das teorias sociais (Mouzelis, 1995, Lahire 2003 e 2012), confirmar a definição (utilizando-a em casos concretos, como os referidos por Acosta, 2013; AAVV. 2013; Torry, 2013) e a pertinência das perguntas junto dos sociólogos teorizadores da violência (Wieviorka 2005; Collins, 2008).

Assim, os estudantes podem optar por uma das seguintes modalidades de trabalho:

a)      Escolher o seu caso de violência para o estudar (ver tb lista de segredos);

b)      Escolher um dos epistemólogos citados (Mouzelis ou Lahire) para encontrar razões para a ausência da violência nos estudos sociológicos;

c)       Escolher um dos activismos citados, a saber, contra o desenvolvimento moderno (Acosta) , contra os abusos sexuais de crianças (AAVV. 2013) e contra a pobreza (Torry) e estudar o lugar da violência para esses activistas:

d)      Escolher um dos dois teóricos da violência citados, Wieviorka ou Collins, e estudar as aplicações das respectivas propostas e as suas vantagens e inconvenientes comparados com a definição acima.


2013


 

Violência segundo Randall Collins

Violência – obstáculos epistemológicos

1)      Separar a moral-política de cada identidade social da percepção do que seja a violência, como quando se estudo política internacional e se separa a geo-estratégia dos direitos humanos (ver Wiewiorka)

2)      Admitir que os danos físicos (e a morte) não são a primeira preocupação de um ser humano e que as suas potencialidades de sociabilidade (natureza social da humanidade) são mais importantes (ver Collins)

3)      Admitir que a acção social não é efeito da razão mas resulta da sintonização social entre seres humanos (ver Collins)

 


Sugestões de enquadramento analítico

Gabriel Tarde concebeu a sociedade como o resultado de uma tendência  mimética própria da espécie humana. Charles Colley apresentou do conceito lookingglass para se referir ao facto de cada um ser uma integração daquilo que julgamos que os outros pensam de nós - por simpatia ou oposição. Conceito aprofundado com os conhecimentos actuais sobre o funcionamento do cérebro por Corballis, ao enunciar a recursividade da mente humana como a característica que nos separa, como espécie, dos outros animais. Foucault fez da ideia de disciplina, do cuidar de si das classes nobiliárquicas das sociedades ocidentais, um dos fundamentos específicos da especificidade da experiência social moderna. Snow referiu-se à escusada contradição das duas culturas, a literária e a científica, como na política outros se referiram à contradição entre religião e razão, ou nas ciências outros falam da separação entre ideologia e teoria: criou uma corrente de estudos sobre modos de pensar (modes of thought). Na cultura tornam-se inescapáveis noções como moda ou estilo. Na psicologia usa-se muito a noção de atitude. Em sociologia é muito conhecida a noção de habitus, teorizada por Bourdieu, na base da qual constrói a sua compreensão do que seja a violência simbólica.

Entaladas entre a espiritualidade e a corporalidade, cartesianas separadas também nas teorias sociais na segunda metade do século XX, as noções acima citadas carecem de compreensão prática e desenvolvimentos adequados. Não há explicações de como a comunicação mental à distância ou de modo não verbal, as inteligências colectivas, as acções colectivas, as transformações colectivas, emergem aparentemente do nada e se processam, e se incorporam nas sociedades e nas pessoas, fazendo a história. Tais investigações podem fazer-se através do estudo dos processos de difusão social (também da violência), das relações abusador-vítima, das tolerâncias religiosas, filantrópicas, políticas aos abusos contra os direitos humanos,   das ondas de contestação social, das ondas repressivas, da sucessão entre compaixão e agressividade experimentadas pelas pessoas no desporto, na vida pessoal, na vida profissional, das síndromes aditivas a respeito do jogo, das drogas ilícitas, das drogas lícitas, etc.

A pretensão teórica da sociologia para escapar, por um lado, às ideologias e, por outro lado, ao biologismo, tornados termos pejorativos para os sociólogos, continua a afastar tanto as ciências biológicas como as normativas do convívio com as teoria sociais. No caso da violência, os estudos dos processos de sofrimento causados pela violência, bem como os estudos dos processos de contenção social da violência, beneficiariam da oportunidade de uma colaboração crítica com as ciências da vida - que lidam com as consequências práticas ex-post das violências, bem como com as patologias eventualmente causas ou/e efeitos da violência - e com os saberes normativos, orientadores e repressores dos comportamentos sociais. Os hospitais e os tribunais podem ser fontes particularmente importantes para os estudos da violência.