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Textos e mapas europeus sobre a Etiópia dos séculos XVI-XVII Uma das particularidades da literatura europeia sobre o reino abissínio é o modo como as descrições de viagem e exploração geográfica se mesclam com representações lendárias. A publicação de obras como o Fides, Religium, Moresque Ethiopum, por Damião de Góis e sobretudo a Verdadeira Informação das Terras do Preste João, em 1540, foram importantes marcos para o aprofundamento do conhecimento europeu sobre aquele país. Mas suscitaram também uma renovação do imaginário fantástico sobre o "reino do Preste João". Este é manifestamente o caso da polémica obra do frade dominicano Luis de Urreta, Historia... de los Grandes y Remotos Reynos de la Etiopía, de 1610. Este autor valenciano fantasiava aí sobre uma suposta antiga presença dominicana num país maravilhoso, numa sociedade virtuosa e católica, de matizes claramente utópicos. Os padres jesuítas, que detinham o exclusivo da missionação católica numa Etiópia que descreviam como herética e bárbara, reagiram fortemente a esta obra que questionava a legitimidade da sua presença ali. Com base nas cartas ânuas enviadas para a sede da Companhia de Jesus, o Padre Fernão Guerreiro publicou, em 1611, uma primeira refutação da obra de Luis de Urreta (a Adição à Relação de Etiópia), logo seguido, em 1615, pelo livro de Nicolau Godinho, De Abassinorum Rebus. A mais sistemática refutação da visão utópica do frade dominicano, no entanto, é a monumental monografia do jesuíta espanhol Pero Pais (Pedro Páez), a História de Etiópia, completada em 1622, e mantida inédita por decisão dos superiores da Companhia. Este relato vívido da etnografia etíope, da história da missão jesuíta e das aventuras do autor nas terras abissínias, e da sua visita às fontes do Nilo Azul (Abbai) manteve-se inédito até ao início do séc. XX. Foi posteriormente reescrita (e também não publicada) por outro padre da missão etíope, Manuel de Almeida, que, recuperando as informações de Pais sobre a Etiópia, reduziu o peso da sua refutação de Urreta. Já após a restauração da independência de Portugal, um outro padre jesuíta, Baltazar Teles, publicou uma versão totalmente reformulada do livro de Almeida. O manuscrito de Manuel Almeida contém um mapa detalhado do território etíope, que serviu de base a Teles e a Iob Ludolf, contribuindo assim para uma revisão profunda do imaginário geográfico europeu sobre a Etiópia. A cartografia da Etiópia reduz-se então para dimensões topograficamente correctas, e deixa de comportar imagens de palácios fantásticos, dos montes da lua e de um lago central africano de onde fluíam, nos mapas precedentes, não apenas o Nilo, mas o Zambeze, o Níger, o Senegal e o Congo. Ainda assim, mesmo num espaço subitamente redimensionado, as conexões fantásticas da Etiópia com o reino lendário do Preste João não desaparecem, apenas se transformam. Samuel Johnson, em meados do séc. XVIII, ao traduzir para inglês o texto de um outro missionário, o Padre Jerónimo Lobo, e sobretudo ao publicar o romance Rasselas, relançou a visão de um reino utópico, perdido nas terras altas do Corno de África. Por outro lado, a busca do lago central africano perdurará até meados do séc. XIX, e motivará as explorações de Burton, Beke e Livingstone. |
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Os mapas |
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Mapa da Etiópia e do Mar Roxo (c. 1640), incluída no livro de Manuel de Almeida, Historia de Ethiopia a Alta ou Abassia. Manuscrito da Biblioteca Britânica. (in Camilo Beccari, Rerum Æthiopicarum Scriptores Occidentales Inediti a saeculo XVI ad XIX, vol. I, Roma, Casa Editrice Italiana, 1903. Fig. VII-VIII)
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Mapa da Etiópia (1683) na primeira tradução inglesa da Historia Aethiopica (1681): A new history of Ethiopia being a full and accurate description of the kingdom of Abessinia, vulgarly, though erroneously, called the Empire of Prester John, de Hiob Ludolf. London, Samuel Smith Bookseller, 1684. (fotografia: SOAS) |
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