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A arquitectura de pedra na Etiópia

De acordo com a lenda da fundação de Gondar pelo rei Fasiladas, uma velha profecia proclamava que uma nova era para o Cristianismo na Etiópia se iniciaria quando um rei justo estabelecesse permanentemente a corte régia num local cujo nome começasse pela letra G. Por tentativas e erros, os reis que precederam Fasiladas construíram castelos de pedra em Gorgora, Gomangué, Guzara e Gânâtâ Iéssusse.
Esta profecia indica, à posteriori, que o conceito de acampamento real (càtàmà) como centro político e cosmológico e, mais globalmente, o conceito de vida urbana na Etiópia se alterou profundamente com a substituição das tendas semi-itinerantes por castelos construídos em pedra e argamassa. A lenda sublinha, também, a existência de conexões culturais e históricas entre Gondar e os complexos reais pré-gondarinos.Os primeiros castelos etíopes em pedra aparelhada foram construídos em Dambiá e no Gôdjame, após o estabelecimento da comunidade portuguesa naqueles territórios (depois de 1543), e a simultânea ocupação da costa da Eritreia pelas forças turcas ( em 1557). De local para local, as residências reais seguem os mesmos parâmetros arquitectónicos: castelos quadrados em pedra ou argamassa, com cisternas adjacentes que mantêm um suplemento permanente de água, rodeados por complexos de paredes circulares encimados por torres cilíndricas.
É provável que arquitectura defensiva portuguesa e turca tenham tido uma especial influência na arquitectura militar etíope. Por exemplo, a torre central do castelo de Fasiladas em Gondar (meados do séc. XVII) evoca, algo anacronicamente, as torres telescópicas presentes na arquitectura militar portuguesa do início do século XVI.
Uma outra influência pode ser detectada num pavilhão real no centro de um tanque em Âzâzô. Parece ter sido inspirado na arquitectura dos pavilhões de lazer indianos: um sistema de condutas conduzia a água até ao telhado do pavilhão, a partir do qual descia como um ecrã pelas paredes, refrescando o pavilhão.
O desenho das igrejas e residências católicas etíopes do séc. XVII surge intimamente associado à presença, naquele país, de um conjunto de missionários jesuítas que ali chegaram, enviados a partir de Goa e Diu. Estes monumentos resultaram possivelmente, de influências e trocas de saberes técnicos entre etíopes, turcos, indianos e portugueses.
Para construir as suas igrejas, os padres católicos recorriam a dois tipos alternativos de planta desenvolvidos pela Sociedade de Jesus na Europa para serem adoptados nas suas missões pelo mundo:
- o modelo da igreja-salão (presente em Gorgora Nova e em Âzâzô), que responde a um conceito congregacional da comunidade religiosa;
- a igreja cruciforme latina, na qual o espaço interior é organizado de acordo com regras estritas codificadas no Concílio de Trento e iluminado por grandes janelas (a catedral de Dancaze segue o mesmo projecto que a igreja de Jesus em Roma, do arquitecto Vignola). A planta arquitectónica favorece a decoração das paredes interiores e arcos, tal como em Mertula Mariame.
Finalmente, a casa do patriarca Católico em Debsane, construída em pelo menos três fases distintas, é um exemplo particularmente interessante da mistura de técnicas de construção trazidas pelos pedreiros que trabalham para os missionários jesuítas.

 

 

Arquitectura de pedra na Etiópia
(sécs. XVI-XVII)

Igreja de Mertula Mariame (Gôdjame)
Castelo de Guzara & "casa do patriarca" (Debsane)
Palácio e igreja de Gorgora Nova
Palácio e catedral de Dancaze
Castelos de Âzâzô e Gondar
Ponte de Tisse Abbai

 

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